REMINISCÊNCIAS GEOLÓGICAS: CURSO DE GEOLOGIA DA UNISINOS NA DÉCADA DE 70 DO SÉCULO PASSADO. COMO ERA?
Sempre que discutimos, entre colegas, sobre o nosso curso de Geologia, costumamos achar que foi o curso mais difícil, mais trabalhoso, e que exigiu de nós um esforço sobre-humano para que nos formássemos. Ora gente, que grande bobagem...! Qualquer curso de nível superior tem o mesmo nível de dificuldade. O problema todo está na aptidão. Para alguém que tem habilidade para estudar Direito, deve ser horrível estudar Nutrição, por exemplo. Então, podemos resumir assim: alguém que teve vocação para Medicina, com certeza não conseguiria fazer Geologia e vice-versa.
Uma dificuldade, na Geologia, existia sim. Uma carga muito pesada de Matemática, Física e Química, principalmente. Então, para alunos que vinham de um ensino médio muito precário, como a maioria dos que ingressavam na UNISINOS, o Curso se tornava quase que instransponível. As pessoas chegavam a rodar até 10 vezes em determinadas disciplinas (sim, isso qualquer um que cursou Geologia lá, presenciou) e, acabavam desistindo do Curso (em nível mundial, não se sabe a causa, mas Geologia é o curso que apresenta os maiores índices de desistência). Existia até mesmo um jargão por lá: "a UNISINOS é um funil; uma boca muito larga para se entrar e uma boquinha extremamente apertada para se poder sair". Esta era a grande dificuldade! Para ilustrar isso, cito o meu caso. Quando me formei a turma tinha oito formandos e o universo de alunos do curso chegava a aproximadamente mil e trezentas almas.
Comparar um curso da década de 70, com um curso de hoje é muito difícil, pois são períodos históricos e momentos tecnológicos muito díspares. "É, por exemplo, como comparar Pelé, com Maradona, quem foi o melhor? Nunca saberemos!!!
Se antes tínhamos currículos teoricamente mais robustos do que os atuais, carga horária maior, mais trabalhos de campo, maior convívio entre os colegas, etc..., hoje têm-se o avanço da informática, que aparentemente tenta compensar tudo isso. Mas, em uma rápida reflexão concluímos que antes lía-mos mais, hoje visualiza-se mais. Talvez aí esteja a grande diferença. Isso, com certeza, causou um grande distanciamento entre os colegas. Hoje em dia o individualismo é a tônica. Na nossa época, a pequena São Leopoldo fervilhava, existia uma ânsia pelo saber geológico e pelo saber cultural. Nossos horizontes eram mais abertos eu creio. Se falava e se discutia geologia, filosofia, biologia, literatura, etc. freneticamente, na Universidade, nos bares onde se botava conversa fora e nas casas de estudantes, que eram inúmeras. Os alunos que nelas não moravam, por lá sempre ficavam agregados, para as aulas do outro dia (uma desculpa para lá de esfarrapada!). Mais tarde, encontrei este mesmo ambiente de incandescência no meu Mestrado e Doutorado, na Universidade Federal do Rio Grande do Sul e no meu Pós-doutorado, na Universidade de São Paulo. Era comum passarmos com nossos parentes por essas universidades, tarde da noite ou nos finais de semana, e eles dizerem "olhem as luzes acesas, os "funcionários públicos não cuidam de nada". Ora, tratava-se de um ledo engano, pois eram os alunos de pós-graduação e, até mesmo de graduação, alguns, que passavam noites à dentro estudando e pesquisando por lá (nos sentíamos donos da Universidade). Hoje, isso faz parte do passado, com toda a certeza. Perdeu-se o romantismo.
Quem estudou geologia naqueles idos teve a felicidade de conviver com grandes mestres daqueles tempos: Rodolfo Geraldo Hoffmann (Biologia), que nos encantava com seu conhecimento holístico da ciência e com seus magníficos desenhos no quadro; Victor Mabilde Ripoll (Mineralogia I - in memoriam), o mais vibrante e amante da cátedra, que vimos, "o homem dos minerais-problema".
Luiz José Tomazelli (Sedimentologia I - II e Geofísica I), que tinha, nas aulas, um entusiasmo e uma entonação vocal imensa; --> uma passagem engraçadíssima ocorreu com um professor nosso que recém havia chegado de seu doutorado na Europa. Era uma pessoa vetusta e metódica, parecia um nobre inglês, daqueles dos filmes antigos. Quando pegava o ônibus, para ir para casa, sentava sempre no mesmo banco da frente (na janela), atrás do motorista. Um certo dia, um colega nosso entrou no ônibus antes e sentou no banco do corredor (ao lado daquele que o mestre sempre sentava). A seguir, o professor entrou no ônibus e sentou em seu lugar de sempre, ao lado do rapaz. O interessante é que naquele dia o ônibus só teve estes dois passageiros. Nosso colega veio de São Leopoldo a Porto Alegre naquela situação, sem saber o que fazer! É claro que quando nos relatou o fato, a gozação foi muito grande, como não haveria de ser de outra maneira.
--> Em São Leopoldo, tinha uma república em que moravam três colegas, mas invariavelmente, posavam mais quatro ou cinco agregados. No apartamento do lado, moravam três moças, que deixavam suas calcinhas na sacada para secarem a noite. Não é que um maluco teve a idéia de roubar algumas calcinhas. Cada dia ele aparecia com uma. Colocou na diagonal de seu quarto um barbante e fixava o produto de seus desvios, como se fossem bandeirinhas de São João. Mal sabia o louco que uma das moças era noiva de um delegado da polícia federal. Estava montada a tragédia, um belo dia o cara bateu à porta com um mandato de segurança, entrou no quarto e configurou o crime. Foi um esparramo, ninguém assumia a bronca, até que não se sabe de que forma o culpado apareceu. Respondeu inquérito, foi ameaçado de prisão, desapareceu de São Leo, ... conta a lenda que foi terminar seu curso no Ceará e, nunca mais foi visto pelas bandas do sul.
--> Outra, nem tão engraçada assim, foi na véspera de minha formatura. As notas de Geodésia saíram um dia antes. E, sete dos formandos foram reprovados. Foi um verdadeiro "burburim", com tentativas de encontrar o professor, que se tornaram inúteis, a turma ameaçou não se formar, em solidariedade, etc. Quando, finalmente o mestre foi localizado, fez-se um pedido para que ele fizesse a revisão dos exames na manhã seguinte (a do dia da formatura) e ele concordou. Pairou um certo alívio, pois achávamos que ele se sensibilizaria, pois familiares estavam em deslocamento para o evento (um ônibus estava vindo de Goiás, inclusive). Mas, para nossa tristeza, as notas foram confirmadas. É, naquela época ainda não havia ainda, sido institucionalizado no Brasil, o famoso jeitinho. O Brasil ainda era outro.
--> As saídas em campo e outras passagens em sala de aula foram homéricas: na época o "romantismo" imperava na geologia. Passávamos vários dias no campo, acampados em barracas. As vezes a turma extrapolava os limites. O que acontecia? Vou relatar algumas das passagens, sem relatar nomes, por motivos óbvios:
--> No mapeamento geológico que tínhamos que defender para ser auferido o grau de geólogo, eu e outro colega estávamos fazendo caminhamento no interior de Santana da Boa Vista. Num dia frio do inverno gaúcho chegamos numa fazendola e conversamos com o dono. Meu colega era portoalegrense da gema, eu um tosco de São Gabriel. O senhor nos acolheu e começou a cevar um chimarrão. Nisso vi que nosso anfitrião era um digno personagem de Bram Stoker, pois ao sorrir só apareceram os dois caninos superiores. Quando veio o mate eu disse ao meu amigo que era uma desfeita muito grande naquela região não tomar o chimarrão oferecido. Sentei estrategicamente de modo a ser o último a tomar, assim o mate era tomado pelo fazendeiro, depois pelo colega e só após chegava a mim (bobagem infantiloide). Bem fomos então almoçar. Nossa, o arroz era embolotado ao máximo e o feijão, muito ralo e com pele de porco em que se visualizava os pelos do falecido suíno. Meu colega quase teve um enfarto e, eu mais acostumado com essas coisas da campanha comi bem farturosamente.
--> Uma passagem muito insólita aconteceu numa madrugada fria e chuvosa. Um colega nosso, levou seu pai que era professor da UFRGS e diretor da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre para o aeroporto. Ao passarem pela rua Voluntários da Pátria, que na época era o principal ponto do baixo meretrício em Porto Alegre, viu dois professores do nosso curso (que tinham as barbas à altura do umbigo, como era praxe dos geólogos da época), com as calças arregaçadas até os joelhos, sentados na calçada, jogando barquinhos de papel na corrente d'água da sarjeta. Parou o carro e cumprimentou os mestres. Imaginem a cena e a explicação, pois o pai de nosso colega era homem do mais fino trato e inserido na alta sociedade do nosso Estado. Como terá sido a explicação do fato de seu filho ter tais mestres em sua formação? Ficou entre eles!
--> Tínhamos um professor que adorava surpreender algum aluno colando. Certa feita, uma colega nossa, meio gordinha e de generosos seios, estava fazendo de conta que estava "colando" (havíamos combinado tudo antes). O mestre foi para o corredor e ficou observando pela fresta da porta. De repente, entrou na sala e foi em direção a moça, que colocou a suposta "colinha" entre seus seios. Não é que o danado foi que nem um ave de rapina atrás da cola. O riso foi geral, pois tudo havia sido combinado previamente entre a turma e no papel estava escrito apenas o nome do mestre e os vocábulos "seu tarado". O próprio mestre meio que encabrunhado riu muito depois de passado o fato.
--> Outra de cabo de esquadra foi em uma prova final numa tarde que fazia um calor de deixar um saudita doente. Pois bem, na fileira da janela ocuparam a fila seis indivíduos vestidos de casacos pretos, típicos do inverno gaúcho. A prova sairia da aula (inventamos um método chamado de bondinho do pão de açúcar - um barbante atado nas pontas, com uma caixa de fósforos vazia) e entraria por uma das janelas, já resolvida. O professor sentiu que algo estava errado e perguntava a toda hora se não estávamos sentindo calor, se estávamos doentes, e assim foi. Ele nos cuidou o tempo inteiro, mas não conseguiu o flagrante. Então, após a entrega das provas, salomonicamete, rodou a fila inteira (naqueles tempos não havia a quem recorrer, decisão tomada, fato consumado). O trágico disso é que um colega nosso, que estava na primeira classe da fila, um cara para lá de dedicado, rodou também. Ele se indignou, disse para o professor que nunca havia repetido nenhuma disciplina em sua vida de estudante, que não tinha nada que ver com "os homens de preto". Mas não adiantou, no semestre posterior lá estava ele de novo, só que agora a uma distância segura de nós.
--> Outra engraçadíssima que houve me envolveu, só que dessa vez com final feliz. Exame final de Estatística. O Prota estava ao meu lado e me pediu um questão. Fiz um papelzinho e disse para ele, mata no peito Prota. Não é que o danado se abaixou e o invólucro passou por cima de sua cabeça e caiu no chão. O professor riu e disse para mim: Paulão traz aqui o papel. Se estiver certo dá para seu colega e tudo bem. Se estiver errado os dois estão reprovados. O momento foi tenso até ele dizer: está certo e cumpriu sua palavra. Nessa tarde eu tive verdadeiramente sobre minha cabeça "a espada de Dâmocles".
--> Mais uma, um colega levou uma furadeira e fez um túnel na parede da sala. Por ali sairia a prova e entraria posteriormente resolvida. Não é que os sacanas, fora da aula, resolveram a mesma em uma folha de papel almaço, daqueles encerados. Então, o colega ficou puxando aquela folha e fazia um barulho danado, mais acentuado quando o cara ficou abrindo o papel depois de tê-lo colocado em seu colo e o restante da turma pressionando para que ele fosse rápido. De repente o professor levantou-se de sua cadeira e disse: vou até o bar tomar um cafezinho, senão vou ter que tomar uma providência. Entregue as provas ficou a dúvida: será que ele vai considerar nossas provas? Considerou!
--> Um dia o professor de Física para Geólogos I estava corrigindo as provas, à medida que elas eram entregues. A turma atrás do mestre esperando seu veredito. Entre os zeros e os 2-3, que eram muito comuns, de repente o professor disse "ôpa esse aqui tirou 7, mas não colocou o nome. Foi um avanço geral, na esperança de que fosse um de nós. Eis que o "lente" disse "ah, é o gabarito". O cara era tão louco que dava sete para o seu gabarito, pois descontava tudo aquilo que não era literalmente desenvolvido. Hoje a gente ri, mas na época chorava!
--> São tantas as estórias sobre as provas que vou parar por aqui. Se é certo que colávamos um pouco, também é certo que estudávamos como uns desesperados e os mestres sabiam disso. Por esta razão, as vezes aliviavam um pouco.
--> No pátio do curso de Geologia havia um símio, em uma gaiola, que os padres mantinham aprisionado. É os religiosos, apesar de cultos, eram ignorantes. Nas folgas das aulas lá estávamos nós, visitando o Chico, que adorava certas guloseimas, que levávamos para ele. Um dia, aproveitando-se do gentil acolhimento que o Chico nos oferecia, um colega colocou sua mão no interior da gaiola. Que azar! O Chico repentinamente se enfureceu e mordeu a mão do rapaz. Isto lhe custou o dedo médio que foi arrancado pela ferinha. Mesmo com cirúrgia plástica não foi possível recuperar a perda. O trauma foi tão grande que o colega acabou por abandonar o curso!
--> saída de campo para Lavras do Sul: --> saímos numa turma com 18 alunos e uma aluna (na época eram raras as meninas que faziam geologia). A noite, antes do tradicional churrasco, resolvemos fazer uma peça, que consistia em um casamento. Um colega era o padre, outros dois os padrinhos, outro o noivo e a menina a noiva (fizemos até uma coroa para ela, com flores do campo). Os demais colegas, o professor e o motorista, os convidados. Até ai, tudo bem. O problema veio depois da cerimônia e da festa (churrasco, com uma cervejinha clássica e até uma cachacinha, pois ninguém era de ferro!). Pois bem, ao nos recolhermos para nossas barracas, o noivo se arvorou e quiz fazer valer suas prerrogativas. A menina corria em volta do ônibus com o insano em seu percalço. Final da estória: a menina teve que ficar na barraca do professor. No outro dia a gozação foi total, inclusive com o mestre. O mais inusitado de tudo é que ao final do curso os dois casaram realmente e, viveram felizes para sempre.
--> saída de campo para o Itaimbezinho, em Cambará do Sul: --> saímos da rodoviária de Porto Alegre, passamos em São Leopoldo e subimos à Serra. O professor havia levado a sua esposa e estavam nos primeiros bancos do ônibus. Na ida tudo bem. Mas, na volta, meu Deus do céu. Era já tarde de uma noite muito fria. Um dos colegas estava em estado de etilismo agudo e era muito chato. Então, os demais colegas começaram a tirar as suas roupas e atirarem na cabeça dos outros à frente. Ora, sempre que chegava um artefacto daqueles em alguém, não se pensava duas vezes, abria-se a janela e jogava-se o mesmo na estrada (me lembro de ter jogado um tênis). Ao chegarmos no fim da jornada, na rodoviária de Porto Alegre, o inafortunado aluno, um cara muito alto e com um bigodinho tipo Freddie Mercury, completamente nu e arrastando a língua, chegou onde o professor e sua esposa estavam e disse: olha aqui ... o que que esses "fdp" fizeram comigo! Como é que eu vou embora agora? O professor e a esposa ficaram espantados, não sei se com a situação ou com a verdadeira "píton" que o rapaz era portador! O final da estória foi feliz: alguns colegas enrolaram o cara em uma toalha de banho e o levaram de táxi para casa. O motorista do táxi é que deve ter ficado muito "encucado" com a coisa!
--> saída de campo para a Serra do Sudeste, em Santana da Boa Vista --> essa vou omitir o sexo do docente, mas o ocorrido se deu assim: - trabalho árduo na seqüência de rochas dos afloramentos visitados. Um dia de verão com um calor insuportável (quarenta graus à sombra). O professor(a) extremamente "chato(a)", pois tudo era proibido. De repente, ficou num afloramento fazendo observações e a turma subiu de repente no ônibus e disse para o motorista ir embora, pois o docente iria de carona com um amigo para Porto Alegre. Isso que naquela época não existia celular! Após o ônibus rodar por uns 10 minutos, dissemos para o motorista voltar. A figura estava "p" da vida e deu um bolo daqueles, principalmente com as conversas para "boi dormir" que tentamos contar.
--> saída de campo para a Planície Costeira, em Torres --> o professor tinha um casamento marcado, do qual ele era padrinho. Foi de automóvel e a turma de ônibus. Após a aula, ele voltou na frente e a turma voltou sozinha no ônibus. Quando o ônibus ultrapassou um ônibus com turistas argentinos (naquela época a estrada era de uma mão, então um veículo ao ultrapassar o outro, ficava quase que rente), ora que surgiu nas janelas do ônibus cinco ou seis "luas rachadas" a observar os turistas. O ônibus deles foi em frente e ao passarmos pelo posto da Polícia Rodoviária Federal em Osório, nosso veículo foi parado e subiram dois policiais no mesmo, que detiveram a turma até que os que mostraram suas luas assumissem a bronca. Eles demoraram alguns dias até voltarem às aulas...
Hoje, pensando nesses fatos e, em inúmeros outros, que aconteceram, fica a pergunta. O que levava a tudo isso? Ora, era uma época de efervescência mundial, de grande inquietação entre os jovens (Beatles, Rolling Stones, Elvis Presley, Janes Joplin, etc.). O país passava por uma ditadura atroz. Todo mundo ficava sufocado e, talvez, encontrasse nessas manifestações, até mesmo infantiloides muitas delas, uma válvula de escape para suas frustrações. Também, porque geologia era um curso "sui generis", diferente dos demais. Muitas saídas de campo, o que dava um sentimento de relativa liberdade a todos. Talvez, somente biologia fosse algo semelhante.
Bem, depois desta introdução, vou colocar para que fique como um registro histórico do Curso de Geologia da UNISINOS da década de 70, o curriculo do Curso de Geologia em 1976 (como o documento original estava quase que ilegível, digitei o mesmo), era composto pelas seguintes disciplinas:
Obs: na época, os cursos nada ou pouco mudavam suas disciplinas (não havia os motivadores dos modismos ainda). Certa vez, ao comentar com um geólogo português o porque da Universidade de Lisboa manter a mesma grade curricular, desde o seu início (final do século XIX), ele me disse que em Portugal a nomenclatura não muda, o que muda são os avanços da ciência. Fiquei quieto e envergonhado com a explicação, pois aqui no Brasil a clássica Geologia Geral havia passado a ser o tal Sistema Terra e, as cargas horárias de Matemática, Química e Física, haviam sido dizimadas, para em seu lugar entrarem disciplinas com um grau de dificuldade menor. Chegou-se ao absurdo de substituírem quase que toda a carga de Mineralogia da UNISINOS, que à época era bem satisfatória. Ou seja, liquidaram o curso na sua raiz, mexeram em sua alma! A partir de então, começou a rarear a grande leva de alunos que passavam para o Mestrado na UFRGS e outras federais do Brasil, e que abocanhavam a maioria das vagas da PETROBRÁS e da CPRM. Aquele curso foi tão bom, que já encontrei ex-colegas nossos como professores da USP, UFRGS, UNIPAMPA, UFSC, UFMT, UFMS, entre outras. Gente, com tradição não de mexe! Esta é a lição que fica, em qualquer segmento de nossas vidas.
No ano de 1981, no período de férias, houve um trágico incêndio no anexo B do Campus Central da UNISINOS, onde estava estabelecido o Curso de Geologia (as causas reais do sinistro nunca puderam ser esclarecidas). As perdas foram totais, tanto materias quanto documentais. Pairou uma grande dúvida no ar. A UNISINOS prosseguirá com a geologia, já que os equipamentos perdidos teriam que ser repostos e custariam uma verdadeira fortuna. Felizmente, a Universidade optou por manter o curso. Parte desse desideratum deveu-se a gentil oferta da Universidade Federal de Santa Maria - UFSM - que cedeu à UNISINOS um laboratório completo de petrografia, que lá estava sem utilização. Tal laboratório é a alma de um curso de Geologia, então a UNISINOS pode continuar, agora nas instalações do Novo Campus, no bairro Cristo Rei.
Curso de Geologia - UNISINOS 1976 - 4 créditos equivalem a 64 h/aula
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Semestre 1 Créditos
Antropologia 4
Língua Portuguesa 4
Língua Inglesa 4
Matemática Fundamental 4
Lógica e Metodologia Científica 4
História do Pensamento Humano 4
Estudo de Problemas Brasileiros 4
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Semestre 2
Geologia Geral 8
Biologia 4
Desenho Técnico I 8
Cálculo Diferencial e Integral V 8
Química V (Geral e Inorgânica) 8
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Semestre 3
Geologia Estrutural I 4
Paleontologia I 4
Desenho Geológico 4
Mineralogia I (Cristalografia e Óptica Cristalina) 8
Química VI (Química Analítica e Físico-Química) 8
Física para Geólogos I (Mecânica e Termodinâmica) 8
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Semestre 4
Geomorfologia I 4
Topografia 4
Estatística III 4
Mineralogia II (minerais formadores das rochas) 4
Paleontologia II 4
Física para Geólogos II (Eletricidade e Magnetismo) 8
Geologia Estrutural II 4
Química III (Orgânica) 4
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Semestre 5
Sedimentologia I 4
Humanismo e Tecnologia 4
Geodésia 4
Cálculo Numérico 4
Estratigrafia I 4
Geomorfologia II 4
Mineralogia III (minerais de minérios) 4
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Semestre 6
Geologia Histórica 4
Deontologia 4
Sedimentologia II 4
Petrologia Ígnea I 4
Estratigrafia II 4
Geofísica I 4
Computação Básica I 4
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Semestre 7
Geoquímica I (ciclo endógeno) 4
Recursos Energéticos (petróleo, gás natural, carvão fóssil, turfa) 4
Petrologia Ígnea II 4
Geologia do Rio Grande do Sul 4
Geofísica II 4
Geologia Econômica I 4
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Semestre 8
Geoquímica II (ciclo exógeno) 4
Geologia Econômica II 4
Petrologia Metamórfica 8
Geologia do Brasil 4
Geologia Ambiental 4
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Semestre 9
Geotécnica 8
Prospecção 8
Geodinâmica 4
Projeto I (preparação ao mapeamento geológico) 4
Geologia do Continente Sul-americano 4
__________________________________________________________________Semestre 10
Projeto III (mapeamento geológico 1:50.000) 16
Estágio no Instituto Eschwege (Diamantina - Minas Gerais) 4
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Total 288 créditos = 4608 horas aulas
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Com o tempo colocarei algumas fotografias da época de nossas saídas de campo, de nossa experiência no ESCHWEGE, etc.
Pessoas, ao escrever esta retrospectiva, senti um grande aperto no peito, pois apesar da grande felicidade de ter vivido estes tempos, também se constata que tudo isso não volta mais, ficou para os arquivos do tempo. Mas, o fato de ter passado por tudo isso, certamente, nos conforta e nos deixa feliz.
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As disciplinas e seus conteúdos programáticos:
1. ANTROPOLOGIA - Prof. Arthur B. Rambo
Introdução ao estudo do homem
Realidades geográfica, biológica e psíquico-racional
Divisões da Antropologia - Física, Cultural e Social
Elementos do meio - clima e solos
Vias naturais da comunicação - intercâmbio entre os povos, vias de comunicação, corredores de estepes européias e africanas, altiplanos da África Oriental,
Isolamento geográfico
Recursos Naturais
Aspectos culturais
Interdependência homem-meio
Fases das culturas altamente tecnificadas
Formas de adaptação cultural
Dimensão biológica do homem
Mestissagem
Migrações internas
Origem e evolução do homem
Explicação materialista da vida
Filogenia humana
Diferenças entre o homem e o animal
Comportamento instintivo
Dimensão cultural do homem
Estudo e características da cultura
História da cultura
Revoluções tecnológicas
Bibliografia recomendada:
RAMBO, A. B. Antropologia - uma introdução ao estudo do homem. UNISINOS: São Leopoldo. 108p., 1973.
NOTAS:
G1 = 2,60
G2 = 5,57
R1 = 6,00
EF = 6,13
MF = 6,00
2. ESTUDO DE PROBLEMAS BRASILEIROS - Prof. Laurício Lehman
Estruturas sociais e políticas: ideologias
Nação
Democracia liberal e social
Objetivos nacionais
Integração nacional
Programa de integração nacional
Conceito de desenvolvimento
Explosão demográfica
Problemas x Soluções
Realidade educacional brasileira
Projeto Rondon e Operação Mauá
Diretrizes de saúde
Problemas da poluição
Problema dos tóxicos
Política de minérios
Política energética
Política de transportes
Mercado de capitais
Bibliografia recomendada:
TORLONI, H. Estudo de Problemas Brasileiros. Pioneira: São Paulo, 327p., 1976.
NOTAS:
G1 = 6,60
G2 = 6,57
R1 = -
EF = 6,13
MF = 6,36
3. LÍNGUA PORTUGUESA - Prof. Vicente Brückmann
Acentuação gráfica
Crase
Colocação pronominal
Dubiedade
Uso do hífen
Plural em substantivos compostos
Plurais especiais
Antropônimos
Adjetivos pátrios
Locuções
Siglas e abreviaturas
Iniciais maiúsculas e minúsculas
Unidades de medidas e símbolos
Conjunção verbal
Particípios regulares e irregulares
Tipos de concordância
Bibliografia básica:
CEGALLA, D. P. Gramática. Nacional: Ri de Janeiro, 347p., 1976.
NOTAS:
G1 = 9,00
G2 = 8,57
R1 =
EF = 6,75
MF = 7,77
4. LÍNGUA INGLESA - Prof. Dorotea Kersch.
Reccaling - Verb To be
Translation of texts: English-Portuguese; Portuguese-English
Conversation
Subject Pronouns
Articles
Plural
Demonstrative pronouns
Vocabulary
NOTAS:
G1 = 6,00
G2 = 7.00
R1 =
EF = 5,50
MF = 6,00
5. LÓGICA E METODOLOGIA CIENTÍFICA - Prof. Honório Zorzo
Natureza e níveis de conhecimento
Pesquisa bibliográfica
Argumentação simples
Argumentação concatenada
Argumentações formal e informal
Conceituação dos principais elementos lógicos
Juízo e proposição simples
Silogismos
Correção dos silogismos
Correção e veracidade nos silogismos
Bibliografia básica:
BECKER, F.; LARS, J. J. F.; BRAND, R. R.; SCHEID, U. Manual de Lógica e Metodologia. UNISINOS, São Leopoldo, 106p. 1976.
NOTAS:
G1 = 6,00
G2 = 6,00
R1 =
EF = 6,00
MF = 6,00
6. HISTÓRIA DO PENSAMENTO HUMANO - Prof. Maurílio Ártico.
Os pensadores: Pascal, Ortega Y Gasset, Jaeger, Werner, pensadores anônimos
Linha do tempo
Oriente pré-helênico
Mundo clássico: Grécia e Roma
Povos helenos
Evolução política de Atenas
Democracia
O mundo grego
Roma
O homem e o mundo romano
Dissolução do Império Romano
Idade Média
Feudalismo
Transição do mundo clássico para o mundo medieval
Cristianismo
Renascença
Desenvolvimento da burguesia
A Reforma
Absolutismo
Independência dos Estados Unidos da América
A Revolução Francesa
O mundo contemporâneo
Revolução Industrial
Ideologia Liberal
O pensamento socialista
Proletariado
Sindicalismo e anarquismo
Colonialismo e Imperialismo
Desenvolvimento científico no século XIX
Movimento feminista
Século XX
A revolução soviética
As grandes guerras
A conquista do espaço
Bibliografia básica:
FRANZEN, B. História do Pensamento Humano. UNISINOS: São Leopoldo, 205p., 1976.
NOTAS:
G1 = 7,60
G2 = 5,57
R1 =
EF = 6,23
MF = 6,41
7. MATEMÁTICA FUNDAMENTAL - Profa. Elizabeth Salim.
Revisão - medidas angulares
Propriedades potenciais
Conjuntos numéricos
Domínios de uma função
Gráficos de funções
Gráficos no plano cartesiano
Funções
Sistemas de inequações
Vértices de parábola
Expoente racional fracionário
Equações e inequações exponenciais
Função logarítmica
Sucessão (seqüência)
Progressões geométricas e aritméticas
Matrizes
Determinantes
Sistemas lineares
Análise combinatória
Binômio de Newton
Forma algébrica
Números complexos
Forma trigonométrica
Fórmula de Maivre
Polinômios
Relações de Girard
Raízes racionais
Porcentagem
Trigonometria
Referências básicas:
GOVANNI, J. R.; BONJORNO, J. R.; GIOVANNI Jr., J. R. Matemática Fundamental. FTD: São Paulo, 560p., 1976.
NOTAS:
G1 = 10,00
G2 = 9,00
R1 =
EF = 7,80
MF = 8,65
8. QUÍMICA V - Profs. Mário Yungs e Marco Antônio Silva.
Matéria e medidas
Água
Oxigênio
Hidrogênio
Matéria e energia
Teoria atômica
Átomos-grama
Número de Avogadro
Radioatividade
Átomos
Determinação de massa e carga
Átomo nuclear
Níveis eletrônicos de energia
Lei Periódica
Tamanho dos átomos
Potencial de ionização
Ligações químicas
Eletronegatividade
Saturação de valência
Ressonância
Forma das moléculas
Estequiometria
Reações químicas
Número de oxidação
Equivalentes-grama
Elementos químicos e seus compostos
Metais alcalinos
Metais alcalino-terrosos
Elementos de transição
Elementos do Grupo III
Elementos do Grupo IV
Elementos do Grupo V
Elementos do Grupo VI
Os halogênios
Estrutura nuclear e radioatividade
Nomenclatura da química inorgânica
Potências
Operações matemáticas
Definições de termos físicos
Unidade
Pressão de vapor de água
Potenciais de oxidação
Constantes de equilíbrio
Escalas de pesos atômicos baseadas no C-12
Pesos atômicos internacionais.
NOTAS:
G1 = 2,10; G2 = 6,00; MG1-2 = 4.05
G3 = 3,00; G4 = 3,6; MG3-4 = 3,30
R1 = 6,00; R2 = 5,6; M = 5,8
EF = 6,20
MF = 6,00
9. Biologia - Prof. Geraldo Rodolpho Hoffmann
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Arcadas do prédio da Geologia da UNISINOS na década de 70 - "quem teve o privilégio de estudar neste local, teve; quem não teve, nunca mais terá!" Este patrimônio cultural da humanidade foi, estranhamente, consumido por um incêndio, numa noite, em um final de semana!
















Parabéns pela iniciativa de criar este blog.
ResponderExcluirFiquei surpreso com o curriculo do curso de Geologia, bem mais atraente, em certos aspectos, que o do curso que eu fiz na Ufrgs (então Urgs), entre 1967 e 1970.
A história da cola escondida entre os seios da aluna está ótima! :-)
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