ANIMAIS DO PASSADO - A DINÂMICA ZOOLÓGICA DA TERRA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
ANIMAIS DO PASSADO - A DINÂMICA ZOOLÓGICA DA TERRA NO ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL, BRASIL
Tiarajudens eccentricus (Fonte: deviantart.com).
Por: Prof. Ph.D Paulo César Pereira das Neves (usppd@yahoo.com.br)
Obs: o conteúdo deste "blogger" é apenas de divulgação e informação científica.
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Prolegômenos
No decorrer do tempo geológico, uma quantidade imensa de organismos surgiram (misteriosamente?), se sucederam e se extinguiram, dando lugar a outros organismos, que seguiram e seguem a mesma ciclagem. O estudo dos seres do passado, tanto animais quanto vegetais, é realizado pela Paleontologia, através dos fósseis (vestígios que esses organismos deixaram soterrados nos estratos sedimentares). As marcas do tempo! Toda esta sucessão da vida, tenta nos ser explicada pela Evolução. Um grande enigma é porque tudo isso aconteceu? Questão de difícil resposta e inúmeras teorias.
Quanto à extinção das espécies, tenho para mim, muito particularmente, que está vinculada a um fenômeno denominado de superespecialização, que resumo assim: sempre que uma espécie, seja ela qual for, se superespecializa, talvez deixe de cumprir seu papel biológico, não sendo mais interessante para o bioma que ocupa e, assim, passa a ser dispensável pela Natureza. Este pensamento me veio através de um documentário científico que vi alguns anos atrás (não me lembro mais o nome, nem o autor!!!). Nele, pesquisadores mostravam inequivocamente um grupo de dinossauros herbívoros que habitavam o centro do continente norte-americano e que se alimentavam basicamente de folhas de determinadas coníferas. Estas estavam em declínio, pois os reptilianos nada acrescentavam às mesmas; simplesmente passavam por seus bosques, derrubando as árvores para comerem suas folhas. Ocorreu, então que estas coníferas foram endurecendo gradativamente suas folhas, dificultando a alimentação dos animais. Além disso, por aspectos climáticos elas migram para o norte do continente, onde as condições climáticas passaram a ser mais condizentes com elas. O interessante do estudo é que os pesquisadores conseguiram detectar (pelo registro fóssil) que as manadas acompanharam a rota migratória das plantas e, os últimos indivíduos extinguem-se no local que as coníferas passaram a vicejar, norte do continente (o que seria hoje o norte do Canadá). Ou seja, aqueles que não contribuíram com seu ambiente natural não resistiram e se extinguiram, provavelmente, por inanição ("a Natureza se impôs"), acarretando, em consequência, uma desorganização em toda a cadeia alimentar.
O exemplo acima serve para nossa espécie (Homo sapiens), que está em franca superespecialização tecnológica. Já estamos vislumbrando que a Terra não terá mais, em pouco tempo, condições de absorver todo o lixo que o homem vem acumulando, proveniente de suas invenções. O desemprego e a fome assolam a humanidade de maneira cada vez mais drástica. O planeta vem continuamente tendo sua atmosfera contaminada de maneira exponencial. As florestas sendo dizimadas para a abertura de novas fronteiras agrícolas. A densidade demográfica só se faz aumentar, principalmente entre os mais pobres.
Será que não estamos a caminho do fim, como as milhares de espécies que já habitaram o planeta? Não estaremos abrindo espeço para uma nova espécie que virá nos suceder?
Apesar deste trecho introdutório, o objetivo desta postagem é apenas elencar o máximo possível de espécies animais que já habitaram o território hoje correspondente ao estado do Rio Grande do Sul, Brasil. Não iremos discutir aspectos paleontológicos e evolucionistas, senão a mesma tenderia ao infinito. Também não colocaremos as formas viventes desenvolvidas após o Pleistoceno.
Mapa que traz em vermelho as áreas fossilíferas do Rio Grande do Sul. A abrangência vai da fronteira com o Uruguai, na região da campanha até as proximidades de Arroio do Ratos, mais ao centro, em terrenos condizentes à Bacia do Paraná. O mesmo não marca as ocorrências fossilíferas ao longo da Planície Costeira e nem as da região de Uruguaiana (Quaternário) e, outras menos expressivas ao longo da Formação Serra Geral (Fonte: MANZIG & WEINSCHÜTZ, 2012).
Outro aspecto interessante: um dia desses um coleguinha de meu neto (com seis anos de idade) me perguntou. Tio, porque alguns dinossauros foram tão grandes? Eu lhe respondi: não sei!!! E lhe instiguei: e, as baleias-azuis, os elefantes, as sucuris, entre outros também são imensos e estão por ai, inclusive vivendo no mesmo tempo que nós, humanos. Também, o tio não sabe o porquê de serem tão grandes. Ele pensou e disse, pois é tio, eu também não sei!! Que alegria, ainda bem que existem crianças, poucas é claro, que refletem sobre as coisas que visualizam, não apenas visualizam as coisas!!
Apesar de se colocar no título "animais do passado" muitas formas que evoluíram no tempo geológico até os dias atuais (Recente) também serão colocadas.
A quem se interessar por esta postagem, tenha uma boa viagem neste mini túnel do tempo, através deste "Museu Midiático", que me propus a elaborar.
Dedico este trabalho à "minha eterna professora" Tânia Lindner Dutra (Gonzaga), que me iniciou nos intrincados desígneos das formas e dos tempos pretéritos. Quando um professor encanta tanto um aluno (hoje com 67 anos), as coisas tendem à eternidade.
A seguir serão colocadas em ordem alfabética, com a geocronologia e alguns dados pertinentes, de todas as espécies zoofossilíferas que forem possíveis de se recuperar, através da bibliografia especializada. Sempre que possível serão acrescentadas à frente dos epítetos a gravura e/ou desenho das mesmas.
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1. Antifer sp. (galhada) - Cervideo (ungulado ruminante) Pleistoceno Superior (Tirreniano) (126-11,5 mil anos atrás). Localidade: Formação Touro Passo, em Uruguaiana. Dimensões: cerca de 0,35 - 0,40 m de comprimento.
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Fonte: researchgate.net. Crânio de Cerritosaurus binsfeldi (vista lateral), Museu Anchieta de Ciências Naturais, Porto Alegre, RS, Brasil.
3. C. binsfeldi Price, 1946 - Arcossauriforme diápsida do Triássico Superior (237-209 milhões de anos atrás). Localidade: Membro Sanga da Alemoa, Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em Santa Maria. Dimensões: a única forma encontrada era de um indivíduo juvenil, por isso não foram estimadas suas dimensões.
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4. Dinodontossaurus Romer, 1943 sp. - Dicinodontes (terápsidos anomodones herbívoros) do Triássico Médio-Superior (245-199,6 milhões de anos atrás). Localidades: Supersequência Santa Maria, em Candelária (região de Pinheiros); São Pedro do Sul - Mata (região de Chiniquá); além de Agudo e Venâncio Aires (Porto Mariante) e Formação Rio do Rastro (Aceguá-Bagé), na Bacia do Paraná. Dimensões: cerca de 2,00 m de comprimento; peso em torno de 300 Kg.
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5. Dinodontossaurus turpior (von Huene, 1935) Cox, 1965 - Dicinodonte (terápsideo herbívoro) do Triássico Médio (245-228 milhões de anos atrás). Localidade: Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em Candelária (Rincão do Simeão, Pinheiro). Dimensões: cerca de 1,80 m de comprimento; peso em torno de 300 Kg.
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6. Dinossauriomorfia (von Huene, 1935) Cox, 1965 - fêmur de dinossauriomorfo, considerado o mais antigo precursor dos dinossauros sul-americanos. Localidade: Dona Francisca (formação Santa Maria); Idade: ~237 milhões de anos (Landiniano - final do Triássico Médio) atrás. Dimensões avaliadas do animal vivo: 1 m de comprimento e 2-3 kg de peso.
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Mandíbula de esfenodonte no arenito, Formação Caturrita, Faxinal do Soturno - Museu da UNISINOS, São Leopoldo, RS, Brasil. Fonte: Manzig & Weinschütz, 2012.
7. Esfenodonte - Amniota do Triássico Médio (220 milhões de anos atrás - fósseis reptilianos mais antigos da América do Sul). Localidades: formações Caturrita e Santa Maria, Bacia do Paraná, em Faxinal do Soturno e Candelária, respectivamente. Dimensões: cerca de 0,15 m de comprimento (mandíbula). Sphenodon punctatus Gray, 1842 (tuatara - Rhynchocephalia) é um fóssil-vivo endêmico da Nova Zelândia, que guarda muitas semelhanças com os esfenodontes do Triássico.
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8. Guaibasaurus candelariensis Bonaparte et al., 1999 - Dinossauro tetrópode carnívoro do Triássico Superior (237-208,0 milhões de anos atrás). Localidades: Sesmaria do Pinhal, em Candelária e Linha São Luiz, em Faxinal do Soturno, Formação Caturrita, Bacia do Paraná. Dimensões: cerca de 1,80 m de comprimento e em torno de 1,00 m de altura.
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9. Equus sp. - Equino (cavalo primitivo) ungulado herbívoro (principalmente gramíneas e ciperácea) do Pleistoceno Médio, Siciliano (0,781-0,126 milhões de anos atrás). Localidades: arroio Chuí, Planície Costeira, em Santa Vitória do Palmar. Dimensões: cerca de 2,00 m de comprimento x 1,50 m de altura.
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10. Hippidion sp. - Equino (cavalo primitivo) ungulado herbívoro do Pleistoceno Superior (2,5 milhões de anos atrás (Tirreniano) ao Holoceno Superior (8.000 anos atrás (Versiliano). Localidades: região do Pampa Sul-rio-grandense (barrancas de riachos em Caçapava do Sul). Dimensões: cerca de 2,25 m de comprimento x 1,85 m de altura; peso em torno de 250 Kg.
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11. Hyperodapedon sp. (Scaphonix - sinonímia de H. fischeri Woodward, 1907) - Rincossauro diapsida do Triássico (251-199 milhões de anos atrás). Era um réptil herbívoro (sua extinção pode ser relacionada com a da Flora Dicroidium, que era sua base alimentar. Localidades: Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em Candelária (Vila Botucaraí, Linha Falcão e Picada Escura). Dimensões:: cerca de 1,30- 2,00 m de comprimento.
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12. Jacharelia candelariensis Cisneros et al., 2011. Dicinodonte sinapsídio herbívoro. Triássico Superior (Noriano em torno de 225 milhões de anos atrás). Localidade: sítio Botucaraí, Bacia do Paraná, em Candelária. Dimensões: cerca de 3,00 m de comprimento; peso estimado em 300 Kg.
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13. Karamuru vorax Kischlat & Barberena, 2000 (sinonímia: Prestosuchus chiniquensis, von Huene, 1938 - não há consenso nesta nova denominação) - Tecodonte arcossáuria carnívoro do Triássico Médio (225 milhões de anos atrás). Localidade: Linha do Soturno, Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em Dona Francisca. Dimensões estimadas: cerca de 7 m de comprimento x 1,70 m de altura e peso estimado em 900 Kg.
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14. P. chiniquensis - Tecodonte arcossáuria carnívoro do Triássico Médio (238 milhões de anos atrás). Localidade: Sítio paleontológico do Chiniquá, Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em São Pedro do Sul. Dimensões: cerca de 6-7 m de comprimento X 1,60 m de altura; peso em torno de 1 tonelada.
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15. Macraucheia patagonica Owen, 1838 - Litopterno herbívoro do Pleistoceno Superior (18-10 mil anos atrás). Localidade: sítio paleontológico do arroio Touro Passo, em Uruguaiana; região de Alegrete e na Planície Costeira (Santa Vitória do Palmar). Dimensões: cerca de 2,5 m de comprimento X 2,00 m de altura; peso em torno de 1 tonelada.
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16. Mesossarus tenuidens Gervais,1865 = M. brasiliensis MacGregor, 1908 - Amniota tetrápode marinho. Permiano (290,1-283,5 milhões de anos atrás). Sua dieta alimentar consistia em derivados do plâncton. Localidade: Passo de São Borja, Formação Irati, Bacia do Paraná, em São Gabriel. Dimensões: cerca de 1 m de comprimento. Consistiram em um robusto argumento para a teoria da Tectônica de Placas, pois só foram registrados no sul do Brasil e regiões contíguas do continente africano.
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17. Pampadromaeus barberenai Cabreira et al., 2011 - Sauropodomorfo herbívoro e bípede do Triássico Superior (233-228 milhões de anos atrás). Localidade: Membro Alemoa, Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em Agudo. Dimensões: cerca de 1,20 m de comprimento e 0,50 m de altura; peso em torno de 15 Kg.
18. Pampatherium typum Gervais & Ameghino 1880 - Cingulata placentário, herbívoro, do Pleitoceno Superior (18-10 mi anos atrás). Localidade: Formação Touro Passo, em Uruguaiana. Dimensões: cerca de 2,20 m de comprimento e 0,60 m de altura; peso em torno de 200 Kg.
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19. Procolophon trigoniceps Owen, 1876 - Procolofonídio (parareptília) do Triássico Inferior (250-240 milhões de anos atrás). Possivelmente era um lagarto herbívoro, talvez fossorial (?). Localidade: Formação Sanga do Cabral (Scythiano Inferior), na Bacia do Paraná. Dimensões: cerca de 0,30 m de comprimento.
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20. Sacisaurus agudoensis Ferigolo & Langer, 2006. Arcossauro tetrápode (por vezes bípede), herbívoro do Triássico Superior (em torno de 225-220 milhões de anos atrás). Localidade: Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em Agudo. Dimensões: cerca de 1,50 m de comprimento e 0,70 m de altura; peso: em tono de 10-25 Kg.
21. Saturnalia tupiniquim Langer et al., 1999. Saurópode bípede/terópode onívoro (alimentavam-se possivelmente de pequenos animais e plantas rasteiras) do Triássico Superior - Carniano (em torno de 233,23 milhões de anos atrás). Localidade: Sítio paleontológico Sanga da Alemoa, Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em Santa Maria. Dimensões: cerca de 1,50 m de comprimento; peso: em tono de 10-50 Kg.
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22. Stahleckeria potens von Huene, 1935. Dicinodonte sinapsida, herbívoro do Triássico Médio (em torno de 245-238 milhões de anos atrás). Localidade: Sítio paleontológico Chiniquá, Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em São Pedro do Sul. Dimensões: cerca de 3,50-4,00 m de comprimento; peso: em tono de 400 Kg.
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23. Staurikosaurus pricei Colbert, 1970 (Teyuwasu barberenai Duarte, 1999 - sinonímia). Cinodonte terópode bípede, carnívoro do Triássico Inferior (Camiano) (em torno de 228-216,5 milhões de anos atrás). Localidade: Sítio paleontológico Jazigo 5, Formação Santa Maria, Bacia do Paraná, em Santa Maria. Dimensões: cerca de 2,25 m de comprimento e 0,80 m de altura; peso: em tono de 30 Kg.
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25. Toxodonte platensis Owen, 1827. Notoungulado terrestre do Pleistoceno Superior (em torno de 18.000 anos atrás). Localidade: barrancas do arroio Chui, no Chuí; Formação Touro Passo (Toxodon sp.), em Uruguaiana. Dimensões: cerca de 2,60 m de comprimento e 1,40 m de altura; peso: em tono de 2 ton.
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26. Trucidocynodon riograndensis Oliveira, Soares & Schultz, 2010. Sinapsídio carnívoro do Triássico Superior Carniano - 233 milhões de anos atrás). Localidade: sítio paleontológico Janner e linha Bernardino, Formação Santa Maria, Província Paraná, RS, em Agudo e Candelária, respectivamente. Dimensões: cerca de 1,20 m de comprimento e 0,60 m de altura; peso: em tono de 10 kg.
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Referências:
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